sábado, 22 de maio de 2010

Socráticos do mundo, uni-vos!




DE QUANTAS COISAS NÃO PRECISO PARA SER FELIZ?

    

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão. Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'


Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...' 'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!
Estamos construindo super-homens e super mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.
Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...


A palavra hoje é 'entretenimento'; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro,você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose. (***)


O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, autoestima, ausência de estresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping-center. É curioso: a maioria dos shoppings-centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...


Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Deve-se passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático.' Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:
"Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz !"

sábado, 28 de novembro de 2009

NOSSAS EXPRESSÕES DE HOJE SUSPENSO ATÉ PRÓXIMO SÁBADO ÀS 6 DA TARDE!


COM O MAU TEMPO, ACHAMOS POR BEM SUSPENDER ATÉ O PRÓXIMO SÁBADO A RETOMADA DOS ENCONTROS DO PROJETO: COM CHUVA NADA DE PRAÇA PARA AS NOSSAS ARTES!CONFIAMOS NO SOL,MESMO QUE TÍMIDO PARA DEVOLVER A ALEGRIA DO NOSSO ENCONTRO.DESDE JÁ AGUARDAMOS TODOS ÀS 6 DA TARDE ALI PELA PRAÇA PARA A NOSSA RODA DE EXPRESSÕES ARTÍSTICAS!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A NOVELA DE ADROALDO BAUER QUE ABRIU O NOSSAS EXPRESSÕES PARA BAIXAR GRÁTIS!


CLIQUE NO LINK ABAIXO E BAIXE "O DIA DO DESCANSO DE DEUS". Livro do Jornalista e escritor Adroaldo Bauer lançado na 1ª edição do Nossas Expressões com a presença do autor e seu "bom-papo"!Aproveite, vale a leitura!

http://overmundo.com.br/banco/uma-novela-para-ler-de-graca

Com as Bênção de São Pedro, retomamos as atividades no sábado!

Tudo bem, admitimos:não vai estar um baita sol,mas a previsão do tempo é esta:Tendência para Sábado (28/11/2009):
Céu:
Parcialmente nublado a nublado sujeito a pancadas de chuva e trovoadas.
Ventos:De leste/nordeste fracos a moderados- sujeito a rajadas .

Temperaturas:Estáveis
. Nos encontramos na Praça às 6 da tarde no sábado, todos com as poesias, músicas, comentários para compartilhar na nossa conhecida roda de mate e caso haja uma chuvinha p aborrecer escapamos para a sede do CUCA ali em frente e tocamos o "baile".O Léca vai com os cordéis, eu vou de poesias do Léca, o Anderson leva suas poesias e surpresas, ainda tem o Rodrigo,o Gustavo e o Schneider com música,mais o pessoal com dança que a Aline combinou. Gente legal que vem contribuir! Retomar o Nossas Expressões,mais que compromisso é um grande prazer!Até lá!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

CARTA DE ACEITE RECEBIDA!NOSSAS EXPRESSÕES NA PROGRAMAÇÃO DO I CONGRESSO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA MORAL E POLÍTICA!


Não deve ser feitiço,nem deve ser arranjo,até porque não se tem "padrinhos",mas que este pessoal que faz o Nossas Expressões faz acontecer, faz: é o Léca lançando livro,é artigo da Fernanda aceito no Congresso de Filosofia."O princípio é a ação", como em Goethe e Rosa de Luxemburgo!Criando habilidades e saberes coletivos,agindo em conserto. Pensar junto na igualdade e pela diferença!Felizes por nós e pelos que vem depois.Nosso espaço vai cumprindo sua função!E logo voltaremos à ativa!

Léca vai autografar seu 1º livro na Feira do Livro de Pelotas!Estaremos todos lá!

CONVITE PARA OS AMANTES DA BOA POESIA E DO NOSSAS EXPRESSÕES:Nosso querido amigo e colaborador Léca ,Tabajara Rodrigues de Carvalho no cartório, Tabayara Sol e Sul no mundo das letras autografa seu 1º livro na Feira do Livro de Pelotas no dia 11 de novembro às 18h. A publicação chama-se: "Anseios Por Um Amor" e será lançada pela Editora da UFPel.Para o Léca nosso carinho e reconhecimento, para a Editora da Universidade os parabéns pela seleção deste autor e de sua obra para conhecimento do público.No dia 11 todos à sessão de autógrafos do Léca...vai que rola uma edição extra do Nossas Expressões por lá, também!Assim, no calor da hora,no improviso,talvez!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Aí vai o artigo!


Nossas Expressões: Uma Prática Cultural autopoiética na pluralidade para a formação de uma eticidade democrática

Fernanda Nunes Ávila

Universidade Federal de Pelotas

Estudante de Graduação

Philos.pel@gmail.com

O Projeto Nossas Expressões teve sua 1ª edição no ano de 2008 em cooperação entre a Coordenação de Arte e Cultura do DCE/ Ufpel, o Grupo de Estudos Caixa de Pandora e o Centro Universidade Cultura e Arte da Ufpel. Proponho passar a apresentá-lo em dois momentos neste trabalho:

1. Reapresentar os conceitos arendtianos de “Poder” e “Autoridade” a partir do texto comunicado por mim no I Simpósio Internacional de Gênero, Arte e Memória (SIGAM) realizado em 2008 pelo Grupo de Estudos Caixa de Pandora;

2.Apresentar um relato teórico-prático da 1ª edição do projeto realizada entre 11 de outubro e 29 de novembro de 2008 em cooperação da Coordenação de Cultura e Arte do DCE e do CUCA da UFPEL.

1.SOBRE PODER E AUTORIDADE EM HANNAH ARENDT:

O “Poder”, mais que uma ação coletiva em concerto, é importante e,de certa forma,determinante à medida que se constitui a ação que funda a própria comunidade(grupo, nação ou cidade), iniciando uma esfera pública para a intervenção humana, só pode ocorrer,portanto,por meio de um encontro público em que haja acordo e consentimento.Talvez por esta característica do “Poder”, Arendt trate este conceito e o da “Esfera Pública” como espaço das aparências e lugar de “isonomia” e “isegoria”. Para a autora, este dado fundacional da comunidade é o que garante a legitimidade do “Poder”. Em suas palavras: “O “Poder” emerge onde quer que as pessoas se unam e ajam em concerto, mas sua legitimidade deriva mais do estar junto inicial que de qualquer outra ação que possa então seguir-se” (ARENDT, 2001:41). Considerando-se assim, qualquer poder seria justificado por si mesmo, porque é fruto da ação coletiva do grupo que o sustenta. Qualquer ação política futura deve, para legitimar-se, referir-se a este momento inicial da comunidade.

Enquanto para Arendt, o poder é um fim em si mesmo,não podendo ser instrumentalizado em nome de qualquer outro fim; em desacordo com a tese weberiana da utilização mais eficiente possível dos meios disponíveis para uma ação estratégica em direção ao poder.

Percebo nas definições de “Poder”, “Política” e “Autoridade” em Hannah Arendt uma disposição para a indicação de uma condição processual, aberta, repactuável a qualquer tempo, a partir do conteúdo do seu momento de fundação, que define as regras para o jogo político onde a autoridade será exercida e reconhecida.Novamente,nas palavras da própria autora: “O poder é um momento fugaz que, por si só, não garante a durabilidade da comunidade”(ARENDT,1981:212-13).

Por este vínculo permanente com o momento fugaz que H. A. considera a autoridade como sinônimo de tradição e estabilidade.Reivindicando a experiência política humana, em que este tal momento fundacional é absolutamente central é que Arendt vai afirmar que toda autoridade estará fundada no momento primitivo,isto é,será instável por si mesma, mas sustentada por regras externas a ela p´rópria.Enquanto o “Poder” é fugaz , instável e dinâmico; a autoridade se faz tradicional e estável.Penso que este raciocínio levado como pressuposto apresentaria a autoridade como uma “institucionalização do poder”.

E, sendo o conceito de “Poder” marcado pela idéia de ação política plural,baseada no consentimento e na livre troca de opiniões entre iguais;então poder e violência são necessariamente opostos: onde um domina completamente,outro já não está.Mesmo indicando por autoridade, a estabilidade e a tradição;o consentimento não implica uma relação inquestionável com quem exerce o poder, já que só mediante violência se alcança um grau de adesão destes,podendo-se partir desta distinção na obra da autora em direção a uma compreensão de consentimento e de apoio às instituições como forma legítima de poder acompanhando o raciocínio arendtiano que “jamais houve governo exclusivamente baseado nos meios de violência,e que onde a violência opera de forma recorrente, o poder já se desintegrou”.

E na relação de conceitos distintos por Arendt, propondo pares opostos: poder/violência; poder/consentimento. Notando-se que para estas considerações conceituais a autora não se satisfaz tratando de qualquer consentimento, mas daquele que se refere ao acordo entre homens livres e iguais.

Hannah Arendt aparenta certa ousadia ao tratar da crítica à tradição,porém,absolutamente respeitosa no trato da acumulação teórica possível a partir desta crítica criteriosa das definições anteriores a si dos conceitos que propõe.Critica as teses weberianas de “Poder e Conflito”,apontando para a insuficiência destas categorias quando reduzem as relações de poder/violência à simples existência de conflito e resistência.Na tese de Weber: “ Poder significa a probabilidade de impor a própria vontade, dentro de uma relação social,ainda que contra toda resistência e qualquer que seja o fundamento desta probabilidade.”(WEBER,1984:43)H.A. rejeita este pressuposto weberiano de imposição de vontade contra a resistência porque embora a luta possa ser pacífica( sem apresentar traço de violência efetiva),não há dúvida que possa redundar em violência,não havendo,na visão de Arendt,nenhum vínculo necessário entre luta e violência. O que vem a carcterizar a luta e o poder não será para Arendt o meio, mas sim a natureza da relação centrada no conflito.Podemos afirmar que a tradição entendeu o poder como algo ali próximo à síntese de Robert Dahl afirmando que A tem poder sobre B quando consegue fazer com que B realize algo que de outro modo não faria(DAHL,1969:80). Envolvendo também uma certa antecipação,por parte de B das eventuais conseqüências negativas no caso de passar a resistir a A,levando-o a permanecer na dada relação sem que seja necessário a A ostentar qualquer elemento coativo mais diretamente.A obra arendtiana dialoga também com a posição de outra parcela da tradição,embora não lhe faça coro,que faz questão de diferenciar “Poder” e “Força”,considerando que onde a força é efetiva já não há mais poder.Tomam como elemento central das relações de poder o “cálculo” que gera expectativas e que baseiam as ações dos atores sociais. Hannah Arendt,ao contrário dos que reduzem o fenômeno do poder à fórmula weberiana,oferece uma dimensão criativa para a ação política e para o poder superando a suposta confusão conceitual reinante na ciência política,já sem dirigir-se apenas aos estudantes dos movimentos da “Nova-esquerda”,passando a referir-se à própria ciência política com sua terminologia e a sua insuficiência para distinguir. Arendt faz do seu registro uma contribuição indissociável de sua experiência de mundo,de sua singularidade.Critica e acumula teoricamente, a partir da própria ação política concreta em compromisso com a natalidade cumpre a contribuição inalienável da sua vivência à teoria da ciência política.Hannah Arendt,com relação à sua crítica da tradição, parte do fato de que o conceito de poder no mundo político,o mais das vezes não está relacionado nem à violência nem ao consentimento,mas pela luta dinâmica e episódica em torno dos interesses conflitantes, em contraposição,por outro lado,a pelo menos uma das claras posições da tradição de localizar o poder justamente na esfera destas relações em função das quais os agentes sociais se organizam e agem coletivamente causando eventos políticos diversos,deslocando com seus movimentos a correlação de forças na sociedade;o que transforma o poder em um bem /resultado a ser adquirido e não como uma atividade-fim em processo aberto e autopoiético:Movimento do movimento em movimento!Onde a primeira palavra movimento exprime significado de dinâmica,deslocamento,alteração de posição;a segunda palavra movimento ocupa as vezes de sujeito da oração(no sentido de movimento social/unidade da ação política do grupo no jogo político);em movimento designado como na definição de algo em processo,em andamento.

A partir daqui,como não encontramos em Hannah Arendt os conceitos de violência,vigor e força descrevendo fenômenos políticos,trataremos de “Poder” e “Autoridade”,ambos ancorados na idéia entre indivíduos livre e iguais como condição para a política.

Pode-se afirmar a partir da leitura de Arendt que a violência em relação ao estado,embora seja um instrumento específico,não é seu único instrumento de manutenção e nos nossos tempos a relação estado/violência é particularmente íntima,não porque seja necessária e obrigatória,mas porque o monopólio do uso da violência pelo estado localizou ali o uso deste elemento como condição essencial para que a violência não estivesse presente nas outras esferas da vida política,sendo também uma condição histórica para certa “Paz” social e que em outros momentos era muitíssimo raras nos estados modernos.

O consentimento proposto pela autora é construído a partir da ação em concerto, enquanto o consentimento da tradição pode referir-se à dominação de uns sobre os outros, como caso especial de poder.

Parece-me aí estar um impasse fundamental no pensamento arendtiano frente à tradição e ao empirismo das vivências políticas dos estados democráticos modernos: enquanto ela aponta como condição para a política este consenso construído e regularmente legitimado em seu movimento na possibilidade de síntese entre a pluralidade expressa em relações entre homens livres e iguais, a história se mostra evidentemente repleta de evidências da direção política funcionando diversamente deste conceito.Restando de acumulação possível desta contribuição de H. A. o vínculo com o reconhecimento destas condições como ponto de partida para a possibilidade de haver política.Se política for,como apresenta a autora,esta possibilidade criativa de “fazer o milagre”,agindo em concerto para conquistar o exercício da ação política,cabe uma reflexão a partir desta leitura sobre a valorização da esfera pública,como apresenta Marcelo Jasmin,analisando a proximidade das contribuições de Arendt e Tocqueville no tocante à responsabilidade da ação humana na História.

2.APRESENTAÇÃO DO PROJETO NOSSAS EXPRESSÕES A PARTIR DA LEITURA DE HANNAH ARENDT

Na observação do conteúdo acessado na pesquisa dos conceitos de “Poder” e “Autoridade” em Hannah Arendt no Grupo de estudos Caixa de Pandora e na Coordenação de Arte e Cultura do DCE da Ufpel busquei uma intervenção que contribuísse para a construção de políticas de “ empoderamento” para a ação em concerto e exercício da pluralidade. No caso do movimento estudantil falou mais alto o compromisso de formar a ação política discente no sentido de aumentar as habilidades de escuta e expressão pelo respeito à legitimidade do outro em espaços moderados com dinâmica acordada e clara para todos e todas.Ao assumir esta busca como intervenção pretendi desviar o encaminhamento do Movimento Estudantil de uma intervenção sectária e violenta ,acatando a crítica de Hannah Arendt aos movimentos estudantis de 1968, percebendo que ainda hoje incorremos no equívoco da tentativa da inversão da dominação como alternativa falsamente democrática e plural.

O Projeto Nossas Expressões propõe a valorização de uma “esfera pública” discente onde encontros semanais são construídos para a recepção da expressão artístico-cultural dos participantes em patamar de igualdade e liberdade. Os encontros recebem as intervenções na modalidade artística escolhida por cada participante: música,teatro,artes visuais,apresentação de temas, poesia ou literatura.

Intervenções de autoria própria ou seleção de outros autores que no critério do participante mereçam “memória”. Ao final de cada período de encontros expressivos o projeto deve publicar uma revista com o registro das intervenções e das avaliações dos participantes onde o registro da acumulação teórica deve disponibilizar-se como herança para a natalidade desta mesma comunidade. O registro escrito deve materializar a acumulação coletiva das habilidades desenvolvidas e vivências compartilhadas nos encontros expressivos na medida em que estes representam a pluralidade de opiniões ativas da comunidade discente no período de cada edição do projeto.

Referências Bibliográficas:

ARENDT, Hannah (1981)A Condição Humana. São Paulo,Forense Edusp.

ARENDT, Hannah (1993)A Dignidade da Política. Rio de Janeiro, Relume Dumará.

PERISSINOTTO (2004)Renato(2004)Hannah Arendt Poder e Crítica da Tradição.In Revista Lua Nova. São Paulo, Lua Nova Editora Sindical.

JASMIN, Marcelo Gantus(2001)História,Política e Modernidade Das Relações entre Arendt e Tocqueville.In MORAES,Eduardo e BIGNOTTO,Newton, Hannah Arendt Diálogos,Reflexões,Memórias, Belo Horizonte, Editora UFMG.

3. Para o início de um relato dos encontros do Projeto Nossas Expressões:

-11 de outubro: Abertura dos encontros semanais com Roda de Intervenções poéticas e musicais, lançamento do livro “O Dia do Descanso de Deus” com a intervenção do escritor e jornalista convidado Adroaldo Bauer Correa sobre seu processo criativo de escrita e sua atuação na implantação da política de descentralização da cultura à frente da Secretaria Municipal de Cultura em Porto Alegre/RS, com transmissão ao vivo Pela Radiocom.Neste mesmo encontro o estudante Anderson Ferreira apresentou esquete teatral de sua “Poesia de Vida e Morte”, com tanto sucesso que foi aclamado a voltar no encontro do encerramento do Projeto.

-De 18 de outubro à 29 de novembro: Os encontros semanais foram ganhando identidade e as intervenções sendo cuidadosamente preparadas como exercício expressivo dos participantes. Contamos com o grupo da oficina teatral do DCE em criações próprias muito intensas, com o grupo de teatro “Os Intransigentes” em sua “Oficina Criativa e Interativa”, com o depoimento do “ Seu Vandico”- escultor pelotense, aprendiz de Antônio Caringi e responsável por parte significativa da história do carnaval de Pelotas, com apresentações da Manuela Farias sobre sua pesquisa sobre quadrinhos e quadrinistas brasileiras. Tivemos a colaboração do Tabajara (Leca) apresentando a riqueza dos cordéis de Gessier Quirino repetidas vezes e outros tantos de autores ainda desconhecidos dos espaços acadêmicos. Na música tivemos as intervenções de Samuel Krolow de Ávila, Fernando Schneider, Rodrigo Giovanaz e Gustavo Steiernagel continuadamente e em um crescente de dedicação e qualidade nas intervenções.

-Na Praça Coronel Pedro Osório, num show ao ar livre teve Tato Ribeiro e José Menna apresentando sua intervenção.

Propõe-se que a partir desta apresentação, se passe a pensar neste projeto como atividade de extensão, como possibilidade prática de vivência da tese arendtiana de “Ação em Concerto”. Com o aval e orientação docente dos que nos proporcionam o estudo desta autora ,como intervenção política coerente e comprometida com a natalidade.